24.2.11
LXXVI- (Re)leituras -- Personnalisme Musulman, de Mohammed Aziz Lahbari, por André Bandeira
Este autor da Universidade de Rabat cola-se um pouco ao personalismo cristão de Emmanuel Mounier, o qual não foi brilhante durante a ocupação nazi da França. Para ele, o Islão funde sagrado e profano, desde a sua essência, e tudo o que é existência humana não pode deixar de ter uma apreciação religiosa, segundo o Islão. Portanto - chegamos a uma conclusão - não existe possibilidade de um Islão laico. Mas, com Tariq Ramadan, acreditamos que há a possibilidade de um convívio e que nem sempre o que parece, é, algo que qualquer sociedade não escolhe, antes tem de encarar. Isto levar-nos-á, num Mediterrâneo mais integrado com a Europa (ou uma Europa mais mediterrânica), à existência inevitável de Partidos políticos de minorias étnico-religiosas, como aquele, da maioria, que governa a Turquia. Mas o personalismo islâmico,salvando o Islão em categorias filosóficas da tradição ocidental, não é muito flexível para o individualismo, socializa o «eu» (excepto a tradição sufi mas também o sincretismo dos marabus)e não deixa lugar para um Estado mínimo, ou uma socialização mínima, onde realidades inconvertíveis a um modelo, possam coexistir. Em suma, o Islão tende a espalhar-se e, quando não se espalha, cai num certo optimismo fatalista, com fome e revolta. Neste último caso, Culturas que se aliaram ao Islão histórico, voltarão ao de cima, umas vezes tribais, outras autoritárias, muitas vezes ansiosas, se não fanáticas, sempre jogando nas electrização de multidões. O Islão guardou, no seu génio, a força civilizadora de Culturas pré-islâmicas que nunca foram superadas e que farão, por exemplo, do Cristianismo, algo muito diferente de Roma ou Washington. A primeira categoria intelectual do Islão, o shahada, «cria» Deus, mas também o Homem, num desdobramento em que o Homem se analisa continuamente e, assim, tudo o que é humano -- como na máxima socrática que criou a «Humanitas» clássica -- nos deixa de ser estranho. Ora, se cada Homem é unico, só Deus o sabe e nós pouco. Isto torna-nos vigilantes uns em relação aos outros, por vezes fatalistas, e Deus, claro, não tem face humana. Enquanto os Príncepes instaurados pela Guerra Fria vão caindo, volta a questão das Monarquias na Arábia. Se o Califa -- ideal político do Islão -- é, no melhor dos casos, o soberano benevolente de uma verdadeira teocracia, em que os sábios decidem e obrigam por maioria, os Muluk (plurar de malik, Rei) buscam uma legitimidade muitas vezes anterior à do profeta Maomé, como é o caso dos Hashemitas da Jordânia e, em tempo, do Iraque. Um caso curioso destes monarcas é que eles quase sempre reinam sobre populações, esmagadoramente diversas da tribo que os gerou. Mas isso mesmo pode ajudá-los a desempenharem a missão de guarda a algo que permanece na sociedade política. Poderão, como já o demonstraram, vir a ser o Poder moderador, à falta de uma verdadeira Cultura de moderação. Isto, enquanto o barril de petróleo atinge os 120 USD e estamos sob uma forte tempestade solar.
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