26.2.11

LXXVII - (Re)leituras : On Tiranny, de Leo Strauss, por André Bandeira

Leo Strauss foi o filósofo dos neo-conservadores norte-americanos, durante a Presidência de George Bush Jr. Além de ser um mente «cunning» ao extremo, Strauss mete medo pelo seu maquiavelismo desesperado. Graças a Deus que Donald Rumsfeld não era neo-conservador porque o arrôjo, direi quase libidinoso, do pensamento de Strauss podia-se ter apossado completamente da herança Bush. Este comentário sobre o texto de Xenofonte, Hieron ou Tyrannicus, não é, como se podia pensar, uma defesa do direito a assassinar um tirano, embora tenha passado por tal. Também no mundo dos livros, a violência publicitária já entrou há muito. O gosto por estudar a Tirania, faz-nos a volúpia de privar com Imperadores e nos sentirmos, fausticamente, que vivemos um sonho, no âmago da História, um pouco como se de uma representação teatral se tratasse. Depois, este «privar com tiranos», para, diz-se, aprender e impedir a Tirania, acaba como uma discussão com o Diabo: na cama. Penso que a competitividade extrema de Leo Strauss é tanta quanto uma busca acrobática de soluções representa o fim de uma fonte de energia, seja ela o petróleo, a sociedade industrial, ou a Democracia-espectáculo. Acho que houve realmente algo de vingativo em certos pensadores dos Impérios centrais que tomaram o caminho dos EUA. Daí a sintonia de Strauss com o hegeliano Alexandre Kojève, bem escutado na URSS, e os perturbantes arrulhos de ambos, em torno do Poder absoluto. No texto Hieron há algo bem actual e que fascina: o Tirano, no fundo deseja ser amado e não sabe porque é que não consegue. Não, não é por ser tirano, como uma audiência televisiva seria levada a pensar. Essa é a resposta mais fácil. O Tirano não é amado, apesar de ser eficaz, porque, no fundo, os outros têm a inveja de ser eficazes como ele. Será que o pensamento profundamente pessimista de Strauss, nos diz que a um Tirano, se segue sempre outro? Não. Ao Tirano, a maldição de não ser amado, neste mundo de exílio, deve ser curada com a conformação de que, para se ser eficaz, tem de se esquecer o Amor, concluindo que o Amor não existe e, portanto, nada há a lamentar. O resto, há em abundância, para os que sabem dirigir firmes. Portanto, a um tirano que cai, segue-se um tempo «desingénuo» em que a Tirania deixa de existir porque só se queixa da Tirania, quem é perdedor. Se se não for perdedor, então é-se eficaz e tudo vem por acréscimo, até a Graça pesada de se achar graça a um Tirano. Há notícias boas e más para o acrobático Leo Strauss, num período em que uma fonte de enrgia está preste a esgotar-se: as boas é que o Tirano vai cair, as más é que ainda não há outro.

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