6.2.11
LXVII (Re)leituras -- From Babel to Dragomans, de Bernard Lewis, por André Bandeira
Este clássico, subtitulado «Interpreting the Middle East», do historiador britânico Bernard Lewis, é indispensável para se compreender o que se passa. Claro que também é indispensável reler o «Orientalism», do palestiniano Edward Saïd. Bernard Lewis é um neo-colonialista democrático da nova geração intervencionista.O invasor e o invadido ficam para sempre unidos, por algo que é a condição comum do ser humano. Nem um assassínio liberta o agressor do agredido. De Babel, ao tradutor (Dragoman, Meturgaman, Truchement), fica-nos a imagem dos «levantinos», tão belos e tão odiados. Os Fanariotas eram, originalmente, gregos que trabalhavam para o sultão turco e lhe serviam de diplomatas, não concordavam com os ímpetos independentistas do seus compatriotas e adoçavam as missivas dos Sultões aos reis infiéis do Ocidente ou despojavam as notas secas da Raínha Vitória, iludindo o Sultão que esta lhes reconhecia a suzerania. Com esta aparente covardia, este camaleões fizeram Paz e semearam equilíbrio. Ficaram como serpentes traiçoeiras, como nessa linda canção de Ney Matogrosso «Meu sangue latino» e não deixaram, nem um estilo de diplomacia, nem um credo de «Terceira Via». Mas ficaram belos, os levantinos, fazendo ainda sonhar toda a gente, que se apaixona por eles e por elas.Ora o Médio Oriente é hoje todo constituído por levantinos, mesmo que fundamentalistas e rigorosamente abstinentes de vinho e de fumos. Como lidar com eles? No Egipto, os Fatimidas, fundadores do Cairo, não conseguiram seduzir os outros com a sua versão do xiismo, que é um legitimismo caudilhista, e passaram a sunitas, mas com um secreto fascínio pela Pérsia e pela Mesopotâmia. A estes, só resta mesmo a oposição de uma multidão com fome e sem Justiça que se recusa a aceitar um líder encomendado por quem quer que seja, ou retirado por quem, não sendo de lá, o encomendou. A solução jacobina de 1789 só deixou mortos. O pacifismo de Ghandi parece esquecido, apesar de toda a sua força. E esta gente levantina, bela e maldita que, escorraçada do Mundo, entregou a Alá todo o seu destino, acomodando lá dentro Adonai e Jesus, só tem uma forma de ser agarrada, porque sempre se conduziu desse modo. Os jovens que gritam e aguardam corajosamente, são o que de melhor podemos tirar deste mundo. Sempre foi. Como diz um Espiritual de Harlem: «Não me fales a mais nada/Fala-me só ao Coração». Um deste jovens é presidente dos Estados Unidos. Não pensem que ele é assim tão frágil. Também é levantino. Ele também se enganou quando prestou juramento. O segredo dele está no coração, aquele que continua a pulsar quando uma pedra nos bate na cara e nos cega, aquele que os antigos egípcios retiravam religiosamente da múmia e aguardavam ao lado, porque acreditavam que era ali onde residia a alma. A mão do Homem treme. A de Deus, não treme.
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1 comment:
A do coração, quando forte, não treme, e a da razão, se esclarecida, também não. Sim: razão e coração em união. O mundo precisa desta dependência.
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