8.2.11

LXIX - (Re)leituras - The Oxford History of American People, de Samuel Morison, por André Bandeira

Este livro é interessante porque o Historiador fala da população e diz logo o que sente. Por exemplo, amaldiçoa 1000 vezes Wilkes Booth, o actor confederado que assassinou Abraham Lincoln. Ora, estamos habituados a ver os Estados Unidos como um país branco e europeu, consumado, em que as utopias (e também as manias) europeias do Passado, se consumaram, como na eleição de um Presidente negro. Os EUA são desde o princípio, um país marítimo. A grande definição dos EUA faz-se com a Guerra da Secessão, onde os soldados cinza e azul-marinho morrem por igual,como cães, à mercê dos devaneios e vaidades dos generais. E os irlandeses anti-britânicos, por não quererem ser mobilizados, enforcam na Nova York nortista, numa tarde, 300 negros caçados pelas ruas.Por seu turno, negros e brancos massacram alegremente índios que, na sua maior parte, se batem corajosamente ao lado dos confederados. Qual era a solução nortista para os negros? Não os manter na escravidão, para não roubarem os trabalhos aos imigrantes pobres. E, depois, exportá-los para uma região de África, do Texas ou do Caribe, todos misturados, sendo que esta era a primeira solução de Lincoln, a mais nobre na altura. Mas alguns dos seus gigantes recusaram-se a ser deportados mais um vez. Alguns radicais anti-esclavagismo, entre os quais Thaddeus Stevens, defenderam realmente a igualdade. Stevens vivia com um negro e sabotou a moderação necessária na Reconstrução do Sul, impondo o sistema nortista, aristocrático, a um Sul que, muito mais que o Norte, tornara os brancos iguais entre si, viessem de onde viessem ( o brilhante General Forrest, dos Confederados, começou como soldado raso). Por isso, o Sul, a certa altura se tornou igualitário e criminosamente racista e parte dos Democratas do Norte que haviam combatido o Sul, se juntaram ao igualitarismo do Sul, onde os mais ricos e educados se elitizavam. Em suma, Lincoln, foi assassinado por ambos porque governou como um Rei, com poder moderador e firme. Morto Lincoln, os EUA passaram a ser um República imperial, logo no seu próprio território, e a reunir dois colégios eleitorais,periodicamente, para eleger um Imperador ou aclamá-lo. Por isso, a exportação da Democracia dos EUA nem sequer merecia o nome americano de «democrata», uma vez que era elitista na sua essência. E violenta. A guilhotina da Revolução Americana foi Gettysburg. A Guerra da Secessão produziu o primeiro campo de concentração da História e o primeiro matadouro de trincheiras. À data do fim da Guerra, os EUA tinham um milhão de homens em armas, o maior Exército do Mundo, de todos os tempos. Nos trinta anos seguintes diminuiram-no mas, de repente, ao virar do Século, multiplicou-se. Em nome do direito do mais forte à liberdade.

2 comments:

Anonymous said...

A do coração, quando forte, não treme, e a da razão, se esclarecida, também não. Sim: razão e coração em união. O mundo precisa desta dependência.

Anonymous said...

Valerá a pena o que diz? Enquanto a Alma não for pequena e Fernando Pessoa, sabendo que só seria reconhecido postumamente, arrastando o seu amigo Mário de Sá Carneiro, bêbedo, pelas ruas, com infinita paciência, deitando-o na cama e tirando-lhe os sapatos até que ele morresse por saber que nem póstumo seria. Valerá a pena? Inshallah. Que a mão não nos trema quando tivermos que abrir a porta final...

Obrigado pelo seu comentário.

André