13.2.11

LXXI - (Re)leituras - In Search of identity, de Anwar El-Sadat, por André Bandeira

Este livro foi publicado pouco antes de Sadate ter sido assassinado. É importante lê-lo como uma longa reflexão do homem que criou uma espécie de Dinastia no Egipto. E lê-lo significa que não há só um tipo de coragem. Sadate parece-me, do pouco que sei, que é um muçulmano sufi. Sufi é o derivativo árabe de «philosopho», esse outro tipo de rebelde que a Democracia ateniense condenou à morte. O «Eu dominante» é o contributo dos sufis ou seja: só uma afirmação do Eu, como algo individual e único, é Destino. Destino de Deus. Os antigos falavam no Direito do Tirano, a sociedade moderna fala-nos do merecimento que as sociedades têm quanto aos próprios ditadores. Os antigos falavam também do Tirano bom. Ora Sadate matou com ferros enquanto pobre resistente ao colonialismo britânico e morreu, aos ferros de um capitão miserável que perguntava insistentemente ao Sheik, encarregado de o assistir nos momentos finais «Diga-me: acha que procedi bem?». Grande é o sofrimento dos homens sobre a Terra. Penso que Sadate retirou do deserto o orgulho de saber que sabia mais que os outros.Com isso,ultrapassou Nasser -- demasiado apaixonado -- e conseguiu uma Paz que o libertou dos russos e lhe deu o melhor dos norte-americanos. Sadate era um titista, distante de Hassad da Síria ou de Kadhaffi, mas amigo de Ceausescu. A sua dinastia, contudo, fora gerada entre jovens militares de academia, profundamente ressentidos com os britânicos que os formaram, desorientados quando no Poder e sujeitos a todo o tipo de influências. Ele foi dos que teve a cabeça mais fria e, de todos, o mais meditativo, malgrado as suas paixões e exuberâncias. A Morte igualizou-o à essência da condição humana que, como sufi, procurou. Mas a sua dinastia, fundada na resistência nacionalista, foi também criada por rêdes, sem um líder definido. Parece, neste livro, que a História do Egipto moderno é definida por redes de élite forjadas na clandestinidade violenta, ou por redes informais cheias de rumor e manipulação próprias duma sociedade feita de povos que chegam e tentam furar pela multidão dos que já lá estavam. E, nesta curva de passagem do Mediterrâneo, é jovens que as redes se lançam. O número não dá razão, nem peso a ninguém. Também o «Raïs» Nasser (como o Ras etíope ou o Ras fascista), prestes a ser invadido pelo inimigo, dizia: «O nosso país é muito populoso e isso constitui uma arma poderosa se dela nos soubermos servir». Como a água do Nilo, que só um grego louco, talvez chamado Daninos, conseguiu convencer Sadate e Nasser a reterem na Barragem de Assuão. Sim, porque o grego ocidental ama o vinho inebriante do Levante. Cleópatra era uma raínha grega, loira e de olhos claros.

4 comments:

Anonymous said...

Filosofia, coragem do saber, do saber que reflecte, aventureiro por saber o que quer e o que não quer. Ou como diria Eça, o que vale é que os medíocres estão sempre contra mim. Não importa o número. O número não acrescenta qualidade. Folosia, ou essência do saber.

Anonymous said...

Filosofia, coragem do saber, do saber que reflecte, aventureiro por saber o que quer e o que não quer. Ou como diria Eça, o que vale é que os medíocres estão sempre contra mim. Não importa o número. O número não acrescenta qualidade. Filosofia, ou essência do saber.

mch said...

Obrigado pelo comentário. Pela força e por duas lágrimas que me escaparam.

André

mch said...

Obrigado pelo comentário. Pela força e por duas lágrimas que me escaparam.

André